sábado, 25 de outubro de 2014

Haters: por que as pessoas, anonimamente, detonam os outros pelas redes sociais

O que você tem a ver com o fim do casamento de uma blogueira fitness? E com o idioma que Bruna Marquezine posta no Instagram? Nada, certo? Mas muita gente anda se sentindo no direito de detonar geral na internet.


             
Foto: Chris Clinton
"Meu namorado acha que peso 5 quilos a menos." "Disse que estava doente para faltar ao trabalho." Era com o intuito de tornar públicos segredinhos assim que o Secret surgiu. Uma plataforma segura onde as pessoas poderiam postar desabafos quase inocentes, protegidas pelo anonimato - o app avisa que a frase foi escrita por alguém do seu círculo, mas não entrega quem. A graça era ficar se coçando de curiosidade, até que... Usuários começaram a postar segredos dos outros, com direito a nomes, fotos (verdadeiras ou não) e a aproveitar
o anonimato para difamar pessoas próximas. Bem-vinda de volta à 5ª série! A brincadeira ficou tão séria que foi parar na Justiça. Uma liminar do Ministério Público baniu o aplicativo das lojas virtuais. Mas quem tem Facebook e Instagram sabe que esse tipo de comportamento já existe há muito mais tempo. Se bobear, você mesma já foi alvo ou fez algum comentário maldoso nas redes, nem que tenha sido em resposta a outra grosseria. Por que será que a vida alheia se tornou tão incômoda?
Joga a hashtag nela
A atriz Bruna Marquezine perdeu a linha publicamente esses dias, quando uma postagem dela no Instagram recebeu o seguinte comentário de uma seguidora: “Aff, só porque tá fazendo filme em outro país, agora só quer colocar legenda em inglês. Não é todo mundo que entende, sua anta”. Bruna retrucou: “Escrevi uma legenda pro cara que tá na foto comigo, e, no caso, ele é americano, não fala português, por isso eu postei em inglês, sua anta! Maaas... Pensando bem... O Instagram é meu! Posso escrever na língua que eu quiser! Se te incomoda tanto, não segue!”, escreveu. Instantes depois, as mensagens foram apagadas. Os autores desse tipo de comentário - anônimos, fakes ou com nome, sobrenome e foto (tem gente que tem cara de pau mesmo) - são chamados de haters (ou “odiadores”). Em comum, têm o fato de não medirem as palavras e estarem sempre com dez pedras na mão, geralmente acompanhadas por hashtags cruéis ou um “rs” sugerindo que, por ser piada, o veneno está liberado. “São pessoas que se sentem de algum modo à parte da sociedade, têm imensa vontade de se expressar e serem ouvidas, mas não têm nada para dizer. E, quanto maior a sensação de impotência, mais violenta é sua reação”, afirma a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi, de São Paulo. E já tem até comprovação científica. Você deve conhecer aquele meme “haters gonna hate” (algo como “quem odeia sempre vai odiar”). Pois um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology confirma que existem pessoas cuja tendência é mesmo reclamar. Esse perfil vai odiar tudo
e qualquer coisa. Simples assim.
Não conta pra ninguém
Você pode até pensar “Boatos sempre existiram” - aposto que a corte da Cleópatra a-do-ra-va falar do troca-troca entre ela, Marco Antônio e Júlio César. #bapho Mas antes fofoca era algo dito baixinho no ouvido da vizinha. Houve a época das cartas anônimas, depois dos trotes telefônicos e agora dos posts, que dão uma dimensão muito maior à fofoca. De repente, a gente perdeu a vergonha de falar o que pensa - especialmente do que não gosta! - sem pensar que os outros atingidos têm sentimentos. “A barreira que a tela do computador impõe libera essas pessoas de culpa e dá coragem de expor emoções primitivas”, diz Cristiane. Afinal, é bem mais fácil criticar se não estou cara a cara com meu alvo, né?
Outro ponto importante (e que nos dá esperança!): não faz muito tempo que as redes sociais se tornaram algo essencial na nossa vida. Ainda estamos aprendendo a lidar com elas, formando as regras e definindo a ética aceitável desse novo universo. “Nós somos a primeira geração que vive tão intensamente no ambiente virtual. É um terreno desconhecido, muito livre, e não há modelo de comportamento estabelecido. Estamos nos adaptando, e isso está acontecendo sob o olhar de todos, o que tem causado estragos”, diz o psicanalista gaúcho Mario Corso. Como você é fina e elegante, embora sincera, vamos combinar uma Etiqueta NOVA? Da próxima vez que bater vontade de criticar alguém online, lembre-se de que por trás de cada @ também bate um coração: com sentimentos, inseguranças e dilemas, igualzinho a você.

Você tem um lado hater?
Ok, hora da mea-culpa. Ninguém está te vendo, então pode ser sincera. Se responder sim a pelo menos uma pergunta (sim, só uma já é o suficiente), faz parte do time dos maldosos da internet. Mas dá para mudar de lado, viu? É só não apertar send naquele post-bomba.
1. Posta sem pensar comentários ofensivos e ri da desgraça alheia? Por isso perde o amigo, mas não perde a piada... e os possíveis likes?
2. Não mede as palavras, nem para falar do figurino de tal atriz ou das gordurinhas no corpo da modelo?
3. Acha que atacar os outros
é uma forma de se defender?
4. É intolerante quando vê uma opinião contrária à sua? E já arma um barraco geral em vez de resolver por mensagem privada? 


        Blog de Deusa / mdemulher


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