Não são poucos os momentos, porém, em que nos calamos por receio de magoar o outro.
Em vez de resolver os problemas, no entanto, essa atitude somente adia um confronto inevitável.
Segundo especialistas, algumas verdades precisam ser ditas. O importante é saber como dizê-las.
Veja a seguir, alguns exemplos.
NÃO QUERO TRANSAR PORQUE VOCÊ NÃO TOMOU BANHO: de modo direto, pode soar não só como crítica, mas como uma ofensa. "Muitos casais que baseiam seus relacionamentos na sinceridade precisam tomar cuidado com as circunstâncias em que a exercitam. Nesse exemplo, ela se torna agressiva. E não acrescenta nada à relação", afirma a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello. Para ela, o melhor modo de conduzir a situação é propor uma chuveirada a dois. "Se você já tomou banho, é só pedir com jeito para a pessoa tomar uma ducha enquanto você prepara a cama ou o ambiente", diz Carla |
VOCÊ GASTA DEMAIS COM BOBAGENS: para a psicóloga Graça Miquelutti Camargo, não há mal nenhum em fazer essa crítica de maneira direta e incisiva, mas é sempre bom lembrar que o conceito de "bobagens" varia de indivíduo para indivíduo. Seria melhor, no entanto, incluir o comentário durante uma conversa entre o casal a respeito das finanças. "Cite a situação financeira, principalmente se não estiver muito boa, e avaliem, juntos, se um investimento mais adequado desse dinheiro poderia, no futuro, proporcionar coisas melhores do que um item supérfluo" |
VOCÊ NÃO FICA BEM COM ESSA ROUPA: gosto não se discute, mas, independentemente de as peças serem ou não bonitas, o fato é que algumas realmente desvalorizam uma pessoa. Há aquelas que evidenciam defeitos ou que ficariam melhores em quem ainda não saiu da adolescência. É um assunto delicado, mas que pode e deve ser abordado de maneira sutil. "Uma dica é não detonar a roupa e apontar porque ela está inadequada, mas fazer sugestões do tipo 'aquela outra calça valoriza mais o seu corpo'. Assim a pessoa não fica ofendida", diz a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, presidente da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade) |
NÃO ESTOU A FIM DE TRANSAR: na opinião da psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, a frase só fere pessoas muito inseguras ou quando a relação não está bem. "De qualquer maneira, é sempre bom ser honesto. Todo mundo passa por uma fase de menor apetite sexual; às vezes nem há um motivo concreto, como cansaço ou estresse. Simplesmente, não existe vontade, e não há mal algum nisso", diz. Se você tem medo da reação alheia, proponha para outro dia. "Diga que não é nada pessoal, mas que prefere deixar para depois, pois naquele momento só quer ficar junto, conversar", sugere Carla |
VOCÊ VIVE DE MAU HUMOR: essa crítica costuma provocar dor, mas pode ser libertadora, segundo Mara Lúcia Madureira, terapeuta cognitivo-comportamental. As pessoas se acostumam a reclamar e a viver estressadas sem se dar conta de como esse comportamento se volta contra elas mesmas. No entanto, para ajudar realmente o par, não basta lhe chamar a atenção: é fundamental oferecer ajuda, nem que seja para ouvir. "Muitas vezes, pode ser algo mais sério do que pura falta de habilidade para lidar com contrariedades e frustrações. A pessoa pode estar sofrendo de distimia, o mau humor crônico", exemplifica Mara Lúcia |
VOCÊ FALA MUITO ALTO: o tom de voz elevado é um fator perturbador das relações interpessoais. Para a terapeuta cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira, a melhor maneira de dizer isso ao par é apostar na dobradinha sinceridade e delicadeza. Exemplo? "É possível que você não perceba, mas o tom da sua voz é muito alto e isso pode confundir as pessoas quanto ao seu humor, perturbá-las e aborrecê-las. Já pensou em consultar um médico para verificar isso? Talvez você esteja com dificuldade auditiva e por isso não se dá conta do volume de sua voz". Na opinião da psicóloga Graça Miquelutti Camargo, jamais se deve repreender em público um parceiro que estiver abusando do volume da voz. "É agressivo, constrangedor. Sugira, discretamente, que fale mais baixo para que os demais não ouçam a conversa de vocês ou desviem a atenção daquilo que estão fazendo" |
NÃO QUERO ALMOÇAR TODO FINAL DE SEMANA COM SUA FAMÍLIA: esse desejo nem sempre tem a ver com ter ou não afeto pela família do parceiro, mas com o fato de que um dos dois está abrindo mão das coisas de que gosta e do poder sobre o próprio tempo em benefício do outro. Fazer concessões em nome do amor é natural, mas tem limites. Se forem ultrapassados, com o tempo, a relação é prejudicada. É importante explicar ao parceiro que a questão não é a família dele, mas a vontade de ter um relacionamento mais flexível e livre de regras. "Sugira alternar os programas ou proponha que cada um almoce com seus parentes e depois se encontrem para fazer algo juntos", diz Mara Lúcia Madureira, terapeuta cognitivo-comportamental |
MALHAR UM POUCO MAIS SERIA ÓTIMO: sugerir hábitos saudáveis é sempre uma boa demonstração de cuidado e preocupação com o outro, desde que você não tente impor suas vontades. "As mulheres, em geral, encaram essa sugestão como crítica à aparência", diz a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello. Ela aconselha que a proposta não deixe de considerar a preocupação com a saúde do par, como forma de incentivo. E seja qual for a motivação por trás dessa verdade, o respeito e a consciência sobre a própria impotência em relação às escolhas alheias devem estar claras |
VOCÊ CRITICA SEUS PAIS, MAS AGE COMO ELES: nem sempre conseguimos nos dar conta, sozinhos, de que reproduzimos as mesmas frases e atitudes de nossos pais que tanto nos desagradam. Cabe a alguém de fora desse vínculo familiar --o parceiro, no caso-- chamar a atenção para o fato. "Essa é uma verdade que dói, mas pode ser dita na 'lata', pois leva a pessoa a perceber que comete os mesmos erros que tanto critica. É um alerta que, com certeza, ajuda a pensar em uma melhor forma de agir", declara a psicóloga Graça Miquelutti Camargo |
VOCÊ USA ROUPA ÍNTIMA VELHA: para a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, o melhor é soltar essa verdade chata, mas necessária, de uma forma mais delicada. "Reclamar, com todas as letras, demonstrará que você considera o outro desleixado. Talvez a intenção até seja mesmo dar esse puxão de orelha, mas essa tática pode não funcionar e ofender". Ela aconselha a mostrar (e elogiar) as peças que gosta em uma vitrine ou revista e dizer que imagina a pessoa usando, pois têm tudo a ver com seu jeito. "Ou surpreenda a pessoa e dê algumas de presente, como incentivo", diz ela |
VOCÊ SÓ PENSA NO SEU PRAZER: na opinião da psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, antes de lançar essa "verdade" na cara da outra pessoa, é preciso embasá-la. Será que a pessoa é mesmo egoísta ou tem alguma dificuldade no âmbito sexual? "É legítimo batalhar por uma vida sexual melhor. Mas, em vez de fazer acusações e reclamar do que o parceiro não fez, diga o que você gostaria que fizesse. Abrir o jogo sobre as expectativas e deixar o outro à vontade diminui a ansiedade e o sexo evolui", conta a especialista |
SEU AMIGO É UM APROVEITADOR: "para não criar polêmica, exponha seu ponto de vista sem acusar o amigo, mas deixe claro que você percebe atitudes abusivas e use exemplos para fortalecer a opinião", diz a terapeuta cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira. Pergunte ao par o que ele pensa a respeito, mas não espere que ele concorde prontamente. É preciso tempo para refletir se existe uma situação de conivência (há um desejo inconsciente de satisfazer às solicitações do amigo para sentir-se querido, valorizado e necessário). Jamais imponha regras de conduta para essas relações, pois isso não funciona. Além disso, só fale alguma coisa depois de ter certeza que não se trata de implicância da sua parte |
SEU CHEFE TEM TODA A RAZÃO: poucas pessoas lidam bem com críticas. Para que sejam bem recebidas e assimiladas, é necessário exercitar a sensibilidade. "Quando uma pessoa reclama do chefe é porque está em um momento alto de estresse e não quer ter sua razão tirada", explica a psicóloga Graça Miquelutti Camargo. "É importante dar apoio, mas aconselhando de uma forma que fique subentendido que o chefe está com a razão, mas sem dizer com essas palavras". Se quem está reclamando demonstra nervosismo, deixe para dar sua opinião quando o clima estiver mais calmo. Sugira, depois, que seu par deixe um pouco a raiva de lado e analise como é que o chefe o enxerga e se, em alguns aspectos, ele tinha mesmo motivos para dar a bronca. Blog de Deusa / Acidez mental |
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