terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Dicas de Deusa - Revirar bolsa, carteira e telefone do companheiro é sinal de ciúme em excesso Quando exacerbado, sentimento pode desgastar o relacionamento e virar compulsão; quando dosado, pode ser bom para a relação



Diz o ditado que o ciúme é o tempero do amor. E como sal ou pimenta, ele precisa ser bem dosado para que o relacionamento não fique intragável. Não há receita que determine a medida ideal, mas o exagero fica claro quando as desconfianças atrapalham constantemente um casal.

Foi o que aconteceu com a administradora Maria Luiza, de 29 anos, que quase perdeu o noivo para o ciúme: ligava várias vezes ao dia e passava na porta da casa dele para checar se ele estava mesmo lá. “Tive sérios problemas de convivência, tudo era em torno do ciúme, era a única coisa que me importava”, conta ela, que chegou a proibir que o namorado fosse amigo de mulheres.
O ciúme excessivo é uma preocupação sem fundamento e irracional de uma possível infidelidade do parceiro. “Se o ciúme começa a limitar a vida dos indivíduos é sinal de que alguma coisa não está bem”, aponta a psicóloga Andrea Lorena. Ela diz que alguns casos viram compulsão e envolvem até a família: “Uma paciente tinha ciúme da irmã e das filhas do namorado”, conta.
Revirando bolsa, carteira e telefone
Ciúme demais não é um sentimento isolado: ele vem acompanhado de insegurança, inferioridade, baixa autoestima e até raiva. Como reflexo disso começam os comportamentos controladores e que desrespeitam a individualidade do outro.
“O ciumento passa a examinar bolsas, carteiras, quer saber onde o parceiro está e com quem está, pode escutar telefonemas, abrir correspondências, seguir o amado e até mesmo contratar um detetive”, descreve a psicanalista Araceli Albino.
Situações embaraçosas e descontroladas trazem prejuízos significativos para o relacionamento amoroso, para o ciumento e para o alvo do ciúme. Foi prestes a azedar a relação que Maria Luiza percebeu que passou do limite. “Estava me prejudicando em todas as áreas da minha vida. Não conseguia me concentrar nos estudos nem no trabalho. Ciúme demais desestabiliza”, diz.

Reconhecer o ciúme excessivo é, aliás, o primeiro passo para controlar a situação. O apoio de familiares, amigos e do parceiro são importantes, mas o diagnóstico feito por um especialista é essencial. “O ciúme patológico é um desafio, pois envolve sofrimento e, em casos mais extremos, podem ocorrer diversos transtornos mentais associados”, ressalta Araceli.
Nesses casos, o tratamento psicológico é o mais indicado e investiga a origem da insegurança do paciente. O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo oferece atendimento especializado através do Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI).
O ciúme atinge homens e mulheres
Todos os homens e mulheres possuem uma necessidade igual de amor. Mas quando começa haver falta de intimidade, diálogo, amizade, cumplicidade, respeito, sentimentos básicos dos relacionamentos, sente-se que esse amor pode estar correndo riscos, sendo natural surgir a insegurança e com ela, o ciúme, como uma tentativa de preservar aquilo que não se quer perder.
O ciúme atinge homens e mulheres. Dizem que é mais comum no sexo feminino, talvez seja porque a mulher demonstre muito mais o que sente, sem se esconder atrás de máscaras e defesas.

Falam hoje de ciúme como se a pessoa se tornasse doente do nada, e não é bem assim que acontece. O ciúme não começa do nada, há todo um processo como em qualquer doença. Primeiro começa haver um afastamento, acúmulos de mágoas, as desculpas para não fazerem juntos o que antes era feito, não há mais demonstrações de amor, interesse pela vida do outro e/ou do casal, gerando muita insegurança.

Com o tempo, isso vai somando-se e começa a surgir a necessidade natural de se entender o que está acontecendo. Geralmente há uma tentativa de conversa, onde a resposta em geral é: nada, nada está acontecendo! Ninguém muda seus comportamentos por "nada". Mas por qual motivo o ciúme começa na relação?

A melhor forma de tirar uma pessoa do controle é a incoerência, ou seja, demonstrar um sentimento e sentir outro. Começa então o desejo de agradar mais o parceiro, como se fosse culpada do que está acontecendo. É nesse momento que começam as cobranças, o controle, numa tentativa, de trazê-lo de volta. O medo da traição começa a perturbar como se as imagens de sua mente fossem reais. O outro, sentindo-se cobrado, pressionado, afasta-se ainda mais, despertando insegurança e ciúme. É aí que começa uma bola de neve, quanto mais um se afasta, mais o outro tenta se aproximar.

O ciúme surge quando se sente que não é mais importante para o outro, é uma sensação de ser preterida, como se seus sentimentos não tivessem mais valor. Além do que, o ciúme humilha, esmaga, dói, por isso talvez seja tão difícil admiti-lo. E quem não admite que tem um problema continua se auto-destruindo e destruindo a relação. Não confiar no amor da pessoa amada equivale a não confiar no próprio valor.

É claro que quem já era insegura por não confiar em si, não acreditar que alguém possa amá-la, sente um medo terrível do abandono, pois sua carência faz com que tenha uma auto-imagem muito negativa, reforçando o medo de que qualquer pessoa poderá afastar a pessoa amada. É o retrato da co-dependência, uma síndrome que tem como um dos sintomas o medo de ser abandonada. Assim, terá menos estrutura de lidar com a situação, levando ao total desespero e descontrole, trazendo muitas vezes à tona conflitos não resolvidos.

Porém, uma pessoa que já era insegura, se tiver um relacionamento com alguém amoroso, que seja capaz de suportar seus sentimentos e suprir suas necessidades, pode com o tempo, perceber-se como alguém digna de amor e respeito, conseguindo aos poucos reparar suas feridas emocionais e traumas vividos, tornando-se uma pessoa mais segura de si.
Mais sintoma do que causa
O que é importante entender é que o ciúme é muito mais um sintoma do que uma causa, pois geralmente, por trás de uma manifestação de ciúme há um apelo para o amor, que pode ser o amor e a atenção do outro, mas que na verdade, representa a busca pelo amor por si mesma. Como não há a consciência disso, continua acreditando que só existe através do outro.

Não seria melhor que as pessoas usassem mais da verdade em suas relações? Não ama mais, não deseja mais? Por que não falar? Por que deixar o outro chegar a ponto de alucinar em suas fantasias na ânsia de respostas para o que está acontecendo na relação?
Justificar a mentira ou omissão do que está acontecendo, dizendo que o outro não tem estrutura para suportar a verdade, não é mais aceitável, pois o que enfurece uma pessoa não é a verdade, mas as mentiras que se ouve até chegar na verdade.

Nesse momento soma-se ainda: baixa auto-estima, falta de amor-próprio, insegurança, necessidade de reconhecimento. Mas se as crises de ciúmes já viraram rotina na relação, é possível fazer algo para mudar. Não há alternativas senão a busca por uma mudança interna, que só é possível através do auto-conhecimento, onde o mais indicado é sempre a busca de um profissional competente para se iniciar um processo de psicoterapia, ou ainda, os grupos de auto-ajuda.

É preciso entender que um pode ser muito importante para o outro, mas não mais importante que para si mesmo. Não é possível amar ao outro mais do que nos amamos. Todos se orgulham muito de ter alguém para amar, mas não se preocupam nenhum pouco com a importância vital que há em relação ao próprio amor.

Quando a relação é vivida com amor e os dois querem mantê-la, é possível buscar um tratamento e transformar o que é doente em saudável. E para começar esse processo, é importante:
  • Admitir que não está conseguindo ter controle sob suas emoções.

  • Escrever sobre os próprios sentimentos - ajuda a compreender o que está sentindo.

  • Buscar ajuda de um profissional.

  • Auto-conhecimento.

  • Reconhecer que a relação está doente, como reflexo de um ou dos dois.

  • Reconhecer que os dois devem mudar.

  • Conversar, conversar, conversar. O diálogo deve estar sempre presente.

  • Verbalizar o que sente, sempre.

  • Empatia, ou seja, desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro.

  • Respeitar os sentimentos do outro, ainda que não os sinta.

  • A verdade, sempre.

  • Cada um fazer uma análise do seu histórico de vida, principalmente infância.

  • Buscar possíveis origens das dificuldades atuais.

  • Comprometer-se consigo mesmo com as mudanças.

  • Demonstrar diariamente para o outro o quanto é importante.

  • Cuidar de si como cuidaria de alguém que ama.

  • Cuidar do outro como se cuida de alguém que ama.

  • Cuidar da relação afetiva como que cuida de um bebê, com atenção, afeto, carinho, enfim, com demonstrações diárias de amor.
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