Brasileiros voltaram às ruas neste domingo (12) para protestar contra o governo Dilma. Houve manifestações em 24 Estados e no Distrito Federal. Adesão foi menor do que no dia 15 de março.
12 de abril, uma manifestação pulverizada em tribos e movimentos
Pelo menos 12 carros de som de grupos diferentes puxavam o protesto contra o PT e o governo. Mas eles não concordam com as mesmas ideias
Manifestação contra o governo Dilma na Av Paulista. (Foto: Andre Lessa/ÉPOCA)
O antipetismo uniu todas as tribos e movimentos na manifestação do dia 12 de abril na Avenida Paulista. Gritos de "Fora Dilma" foram a norma. Mas atrás dessa uniformidade, o que se viu no segundo grande protesto de 2015 foi uma pulverização de demandas, espalhadas em vários grupos de manifestantes. O "Fora Dilma" foi apenas o fio condutor de um grande número de grupos, tribos e movimentos.
Os três grupos que encabeçaram a manifestação - Revoltados Online, Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua - atraíram a maior parte do público. Eles indicavam o tom da manifestação, com palavras de ordem voltados contra o PT, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. "O PT é um partido totalitário", diz Kim Kataguiri, do MBL. "Tirá-lo do poder não resolve o problema, mas é um passo à frente."
Mas eles não eram os únicos presentes na manifestação. Pelo contrário. Em uma caminhada pelos 2.700 metros da Avenida Paulista, a reportagem contou nada menos do que 12 carros de som puxando o protesto, de pelo menos 11 grupos diferentes. Uma lista rápida mostra essa diversidade:
1. SOS Forças Armadas
2. Revoltados Online
3. Endireita Brasil
4 Carro de som pedindo intervenção militar
5. Carro de som pedindo intervenção militar
6. União Nacionalista Democrática
7. Vem Para a Rua
8. Movimento Civil XV de Março
9. Movimento Brasil Livre
10. Movimento Quero me Defender
11. Carro de som do Partido Solidariedade
12. Movimento Liberal Acorda Brasil
Confira o local em que cada movimento ficou no mapa no final do texto.
Dos 12 carros de som, cinco pediam abertamente algum tipo de intervenção das Forças Armadas, enqua "Fora Dilma" era grande: um grupo recolhia assinaturas para criar um partido cuja principal bnto os outros defendiam a pauta do impeachment ou mostravam insatisfação com o governo do PT. A diversidade de demandas escondidas noandeira é aumentar o poder dos Estados na federação; outro defendia o fim do desarmamento. Um grupo, chamado Eu Amo o Brasil, puxava o coro contra a impunidade. O discurso contra a corrupção estava presente, pedindo investigações no BNDES e a redução dos ministérios no governo.
ismo e ao PT. "A nossa bandeira jamais será vermelha."
Nos muitos carros de som que pediam a intervenção das Forças Armadas, as associações com a Guerra Fria eram a norma. Em um deles, da União Nacionalista Democrática (UND), um homem discursava em inglês, e era logo em seguida traduzido. "We are Brazilians, we are patriots", dizia. Segundo ele, era preciso mostrar para a imprensa internacional o porquê da necessidade de uma intervenção militar para evitar que o Brasil se transforme num país comunista.
Um dos grupos presentes na manifestação era o Mídia sem Máscara, dos alunos do filósofo Olavo de Carvalho. Representante do grupo, Alex Pereira falou que o PT já está implantando o comunismo no Brasil, por meio do Foro de São Paulo
Na Paulista, a Guerra Fria ainda não acabou
A maioria desses grupos são movimentos recentes. Alguns foram formados após as manifestações de 2013, outros depois das eleições. Um deles, o mais recente, é o Movimento Liberal Acorda Brasil. Segundo Marcelo Vitorino, um dos organizadores, o movimento é uma dissidência dos outros grupos - especialmente o Vem Pra Rua - formado após as manifestações de 15 de março. Vitorino conta que o grupo se formou porque acredita que os outros movimentos não estavam apresentando pautas concretas além do impeachment. "Os demais grupos não queriam o diálogo com o poder. Nós somos mais pragmáticos." Bem organizados, eles contavam com assessoria de imprensa, um dos maiores carros de som da manifestação, e distribuíram bexigas verdes e amarelas para a execução do Hino Nacional. O movimento também tem uma pauta política bem específica – vários pontos de reforma política que vão desde o voto distrital puro até mudanças na distribuição do fundo partidário. Nem todos os movimentos concordam com essas demandas.
Governo segue na UTI, mas comemora quadro estável
Além da diversidade nos movimentos puxando a manifestação, as "tribos" presentes na Paulista eram muitas. Assim como no 15 de março, a presença era grande de famílias, pais e mães levando as crianças para o protesto. A reportagem conversou com caminhoneiros, médicos, advogados, vendedores, microempresários. Por volta do meio dia, um grupo de cerca de 1.500 motoqueiros invadiu a pista. "Vários motoclubes se uniram para protestar porque estamos descontentes com os rumos do país. A corrupção tomou conta do país", diz o advogado Fernando Katori, um dos motociclistas.
Alguns políticos estavam presentes na Paulista, mas poucos se aventuraram a discursar. Ronaldo Caiado (DEM-GO) tirou selfies com o público, mas não discursou. Pastor Everaldo (PSC-SP) estava com o Movimento Brasil Livre, mas não pôde discursar e foi expulso do palanque, após tirar fotos com integrantes do grupo. Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi aplaudido pelo público e falou do alto de um dos carros de som. O Partido Solidariedade, do Paulinho da Força, alugou um dos carros de som. Paulinho, que foi vaiado no 15 de março, desta vez, não tentou discursar.
Uma das "tribos" terminou o dia particularmente contente: a das pessoas que estavam trabalhando. Ambulantes vendiam água, cerveja, bandeiras, camisetas, apitos. David Santos Neto, de 26 anos, é um exemplo. Ele estava vendendo vuvuzelas. "Eu estou aqui para ajudar no protesto. Mas também para ganhar um dinheiro", disse. Sua "Corneta Chupa Dilma" estava custando R$ 5,00.
Na Paulista, a Guerra Fria ainda não acabou
O discurso polarizado da Guerra Fria - capitalistas contra comunistas - se sobressaiu na manifestação
Manifestante segura cartaz durante manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Nelson Antoine/AP)
No sábado (11), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, se cumprimentaram na Cúpula das Américas, no Panamá. "A Guerra Fria acabou", disse Obama. A mensagem do presidente americano, aparentemente, não foi ouvida por manifestantes que protestaram contra o governo da presidente Dilma Rousseff na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (12). O discurso polarizado da Guerra Fria - capitalistas contra comunistas - se sobressaiu na manifestação.
Governo segue na UTI, mas comemora quadro estável
Nas faixas e cartazes da manifestação, o "Abaixo o Comunismo" estava lado a lado com o "Fora PT". Nos gritos de guerra e palavras de ordem também. Por volta das 15h, em frente ao carro de som do Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, manifestantes passaram com um bandeirão verde e amarelo escrito "impeachment". Os animadores do MBL puxaram o coro: "Quem não pula é comunista". Outro grito popular enfatizava o vermelho, cor associada ao comunismo e ao PT. "A nossa bandeira jamais será vermelha."
Nos muitos carros de som que pediam a intervenção das Forças Armadas, as associações com a Guerra Fria eram a norma. Em um deles, da União Nacionalista Democrática (UND), um homem discursava em inglês, e era logo em seguida traduzido. "We are Brazilians, we are patriots", dizia. Segundo ele, era preciso mostrar para a imprensa internacional o porquê da necessidade de uma intervenção militar para evitar que o Brasil se transforme num país comunista.
Um dos grupos presentes na manifestação era o Mídia sem Máscara, dos alunos do filósofo Olavo de Carvalho. Representante do grupo, Alex Pereira falou que o PT já está implantando o comunismo no Brasil, por meio do Foro de São Paulo - uma organização de partidos de esquerda da América Latina. "O Brasil não é uma democracia, é uma narcoditadura comunista", disse, mostrando a página do jornal que, entre outras coisas, afirma que o ex-ministro José Dirceu é um "agente cubano". Outro grupo, o Quero me Defender, que é contra o Estatuto do Desarmamento, colocava como uma de suas demandas que o governo se pronunciasse sobre a situação na Venezuela.
Um dos sinais de que a Guerra Fria estava presente na manifestação veio de uma música. Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, ganhou uma letra adaptada anti-PT. "Vem, vamos embora, que esperar não é fazer" virou "Dilma, vá embora, que o Brasil não quer você". A canção, por décadas considerada como um hino da esquerda no Brasil, foi cantada por empolgação por manifestantes contrários ao PT.
Blog de Deusa / Revista Época
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