sexta-feira, 6 de março de 2015

PRÉ-DIABETES | DIAGNÓSTICO, RISCOS E TRATAMENTO

                pre-diabetes

O diabetes mellitus tipo 2 é a forma de diabetes mais comum em todo mundo, sendo responsável por cerca de 90% de todos os casos. Somente no Brasil, estima-se que mais de 7 milhões de pessoas sejam diabéticas, sendo que boa parte delas não sabe que está doente.

Ao contrário do diabetes tipo 1, que tem origem genética e costuma surgir na infância, o diabetes tipo 2 não é uma doença que surge subitamente em pessoas saudáveis. Em geral, ele é um quadro de instalação lenta, que acomete preferencialmente indivíduos com fatores de riscos bem conhecidos, tais como, história familiar, excesso de peso, acúmulo de gordura na região abdominal, idade superior a 45 anos, etc. (leia: DIABETES TIPO 2 | Causas e fatores de risco).

Habitualmente, antes de desenvolver o diabetes tipo 2, o paciente passa por um estágio chamado de pré-diabetes, que costuma ser assintomático e pode durar anos. Apesar de ainda não ser a doença diabetes mellitus propriamente dita, o pré-diabetes também pode causar danos à saúde, como um maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

OUTROS ARTIGOS SOBRE DIABETES:
– O QUE É DIABETES?
– PRIMEIROS SINTOMAS DO DIABETES
– DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS
Neste artigo vamos explicar o que é o pré-diabetes. Vamos falar sobre suas causas, como é feito o seu diagnóstico, qual é o risco de evolução para diabetes tipo 2 e quais são as opções de tratamento.

O QUE É PRÉ-DIABETES
O pré-diabetes surge quando o processamento da glicose (açúcar) pelo organismo não está sendo feito de forma adequada. Em vez de servir como fonte de energia para as células, a glicose permanece circulando no sangue, fazendo com que o seu nível fique acima do normal (falaremos especificamente dos valores da glicose sanguínea mais à frente, na parte sobre diagnóstico do pré-diabetes).

De forma simples, podemos dizer que uma pessoa tem pré-diabetes quando a sua glicemia (nível de glicose no sangue) está acima do normal, mas ainda não é alta o suficiente para ser definida como diabetes.

Para entender como surge o pré-diabetes, vale a pena relembrar como o corpo manuseia o açúcar ingerido na dieta.

A maior parte da glicose presente no nosso organismo vem dos alimentos que consumimos, mais especificamente dos alimentos que contêm carboidratos, tais como pão, massas, arroz, batata, doces, frutas, milho, farinha, bolos, etc.

Durante a digestão, o açúcar presente nos alimentos é absorvido no intestino e entra na corrente sanguínea. Assim que o organismo detecta uma elevação no nível da glicemia, o pâncreas passa a liberar um hormônio chamado insulina. A insulina age como uma chave que abre as portas das células para que a glicose possa ingressar. Sem insulina, a glicose não tem como penetrar nas células, e sem glicose, as células não conseguem funcionar adequadamente.

A entrada de glicose nas células faz com que a sua concentração no sangue caia. O nível de insulina no sangue é controlado de forma muito apurada. Se a glicemia eleva-se, o nível de insulina também sobe; se a glicemia cai, a liberação de insulina pelo pâncreas também reduz-se. Desta forma, a concentração de glicose no sangue é sempre mantida dentro de valores considerados adequados para o funcionamento do organismo.

Quando o indicíduo tem pré-diabetes, é porque o processo descrito acima está sendo realizado de forma inadequada. Habitualmente, dois mecanismos são os responsáveis:

1- O pâncreas deixa de ser capaz de produzir quantidades adequadas de insulina, fazendo com que parte da glicose se acumule no sangue.
2- As células se tornam resistentes à ação da insulina. A quantidade de insulina é adequada, mas ela não é eficiente na hora de facilitar a entrada da glicose nas células. Esse efeito é especialmente comum em pessoas com sobrepeso, pois o excesso de gordura está claramente associada a uma menor eficiência da insulina.

Quando o defeito em um dos dois mecanismos descritos acima é brando, o paciente desenvolve pré-diabetes; quando o defeito é grave, o paciente desenvolve diabetes mellitus.

DIAGNÓSTICO DO PRÉ-DIABETES
Os métodos laboratoriais para diagnosticar o pré-diabetes são os mesmos utilizados para o diagnóstico diabetes, o que mudam são apenas os valores.

1- Glicemia de jejum

O método mais utilizado para o diagnóstico tanto do diabetes quanto do pré-diabetes é a chamada glicemia de jejum, que é a dosagem do nível de glicose no sangue após um jejum de pelo menos 8 horas.

O normal é ter uma glicemia de jejum de no máximo 99 mg/dl.
Indivíduos com glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados pré-diabéticos.
Indivíduos com glicemia de jejum igual ou acima de 126 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados diabéticos.
Dizer que o paciente tem uma glicemia de jejum alterada é uma outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

2- Hemoglobina glicosilada (HbA1C)

A hemoglobina glicosilada é um exame que avalia a quantidade de glicose presente na hemoglobina. Quanto maior for a glicemia ao longo do tempo, maior é o valor da hemoglobina glicosilada. Esse teste é muito útil, pois ele estima o valor médio da glicemia nos últimos 3 meses. Se a HbA1C vier alta, isso significa que a glicemia esteve descontrolada nos últimos 3 meses, no mínimo.

O normal é ter uma hemoglobina glicosilada abaixo de 5,7%.
Indivíduos com hemoglobina glicosilada entre 5,7% e 6,4% são considerados pré-diabéticos.
Indivíduos com hemoglobina glicosilada acima de 6,5% são considerados diabéticos.
3-  Teste de tolerância oral à glicose (TTOG)

O teste de tolerância oral à glicose é um exame no qual o paciente dosa a sua glicemia em jejum e novamente 2 horas após beber uma solução rica em açúcar. Esse teste serve para ver como o organismo processa a glicose logo após a sua ingestão. Exceto nas grávidas, o TTOG é raramente usado para o diagnóstico do pré-diabetes ou do diabetes (leia: DIABETES GESTACIONAL | Riscos, sintomas e diagnóstico).

O normal é ter um teste de tolerância oral à glicose abaixo de 140 ml/dl.
Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose entre 140 e 199 mg/dl são considerados pré-diabéticos.
Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose acima de 200 mg/dl são considerados diabéticos.
Dizer que o paciente tem intolerância à glicose é uma outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

FATORES DE RISCO PARA PRÉ-DIABETES
Como o pré-diabetes é basicamente uma estágio antes do surgimento do diabetes mellitus, o seus fatores de risco acabam sendo praticamente os mesmos. Os mais importantes são:

Sobrepeso (IMC maior que 25 kg/m²). Quanto maior for o IMC, mais elevado é o risco (leia: IMC | Como calcular o índice de massa corporal).
Acúmulo  de gordura na região abdominal (cintura maior que 102 cm nos homens ou maior que 88 cm nas mulheres).
Sedentarismo.
Idade acima de 45 anos.
História familiar de diabetes tipo 2.
História pessoal de diabetes gestacional.
Síndrome do ovário policístico (leia: OVÁRIO POLICÍSTICO | Sintomas e tratamento).
Hipertensão arterial (leia: HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA).
Colesterol elevado (leia: COLESTEROL HDL, COLESTEROL LDL E TRIGLICERÍDEOS).
Tabagismo (leia: DOENÇAS DO CIGARRO | Como parar de fumar).
Apneia obstrutiva do sono.
EVOLUÇÃO DO PRÉ-DIABETES PARA DIABETES
O pré-diabetes tem em basicamente dois problemas. O primeiro é o fato dele estar habitualmente associado a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente o sobrepeso e o colesterol elevado. O segundo, que é o mais importante, é o fato do pré-diabetes ser um estágio logo antes do aparecimento do diabetes, sendo essa transição muito comum no período de poucos anos.

Se nada for feito, cerca de 1/3 dos pacientes com pré-diabetes irá progredir para diabetes dentro do prazo de 3 a 5 anos. Se levarmos em conta apenas os indivíduos com múltiplos fatores de risco, a taxa de progressão é ainda mais alta.

O fato é que nem todo mundo com pré-diabetes irá obrigatoriamente evoluir para diabetes, mas praticamente todos os pacientes portadores de diabetes tipo 2 em algum momento da vida passaram pela fase de pré-diabetes.

Portanto, como o risco de progressão para o diabetes tipo 2 é bem alto e não há como saber de antemão que irá progredir ou não, medidas preventivas devem ser instituídas o quanto antes possível.

TRATAMENTO DO PRÉ-DIABETES
O tratamento do pré-diabetes é, na verdade, apenas um conjunto de medidas de prevenção contra o diabetes. O alvo é atacar os fatores de risco que podem ser modificados. Obviamente, ninguém pode fazer nada em relação à história familiar ou à própria idade, no entanto, muito pode ser feito em relação à dieta, ao tabagismo, ao sedentarismo e ao excesso de peso.

Todos os indivíduos com pré-diabetes devem ter como objetivo principal emagrecer e alcançar um IMC abaixo de 25 kg/m². Porém, mesmo perdas pequenas de peso, como algo em torno de 5% do peso corporal já são suficientes para reduzir de forma relevante o valor da glicemia em jejum.

Outro fator importante é a prática regular de atividade física. O sedentarismo e o excesso de gordura diminuem a eficácia da insulina, enquanto o aumento da massa muscular e a prática regular de exercícios fazem o efeito contrário, tornando a insulina circulante no sangue mais eficaz. O importante não é necessariamente a intensidade do exercício, mas sim a frequência com que ele é feito durante a semana. O ideal são 30 minutos de atividade, 5 vezes por semana, para haver efeitos relevantes, porém, mesmo uma frequência menor ainda é melhor do que o sedentarismo.

Quem é fumante deve largar o cigarro imediatamente. Não só o cigarro é responsável por uma extensa lista de doenças graves, como ele também aumenta o risco de diabetes em quase 40%.

Medicamentos para o pré-diabetes

Na maioria dos casos, não há necessidade de indicar tratamento medicamentoso para a prevenção do diabetes, pois as mudanças de hábito alimentares e de vida costumam ser suficientes para controlar os níveis de glicose. Além disso, são muito limitadas as opções de drogas que realmente retardam a progressão para o diabetes sem provocar uma gama de efeito colaterais indesejados.

Contudo, a terapia medicamentosa pode ser útil na prevenção da diabetes tipo 2 em pacientes com alto risco e que não conseguem pôr em prática as mudanças de estilo de vida necessárias. Geralmente, o uso de droga acaba sendo indicado para pessoas com menos de 60 anos, IMC acima de 35 kg/m² ou mulheres com histórico de diabetes gestacional, que não conseguem ou não podem ter um estilo de vida mais saudável.

Para estes casos, o uso da metformina, um antidiabético oral, pode ser indicado (leia: CLORIDRATO DE METFORMINA). A metformina ajuda a reduzir os níveis de glicose e diminui o risco de progressão para o diabetes, principalmente em pessoas jovens e obesas. É importante destacar, porém, que esta droga é menos efetiva que as mudanças de estilo de vida, devendo, portanto, ficar restrita apenas àqueles que não conseguem emagrecer nem praticar exercícios.

O orlistat (Xenical) é uma droga que não age diretamente sobre a glicose, mas como ajuda o paciente a perder peso, acaba de forma indireta sendo útil no controle do pré-diabetes nos pacientes com sobrepeso (leia: ORLISTAT (XENICAL) – Remédio para emagrecer).

Além da metformina, e do orlistat em casos selecionados, nenhuma outra droga costuma ser indicada para o prevenção do diabetes.

Cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica é uma medida mais radical, que pode indicada nos pacientes com obesidade mórbida (IMC maior que 40 kg/m²), que não conseguem emagrecer de outra forma. Pacientes submetidos a esta cirurgia emagrecem rapidamente e apresentam grande melhoria do seu metabolismo da glicose.



                     Blog de Deusa / MD Saúde




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