Antigamente, saber a tabuada de cor e poder fazer algumas contas de cabeça era uma necessidade cotidiana. Na padaria, no açougue, na mercearia - quem não soubesse contar seus miúdos corria o risco de sair com o troco errado. Hoje, na era das calculadoras e dos smart phones, será que habilidades como essas se tornam obsoletas? E que outras aptidões são necessárias para que as crianças de hoje vivam bem no século 21?
As calculadoras começaram a aparecer nas salas de aula do ocidente na década de 1970. Elas já existiam antes, mas à medida que seu preço e tamanho diminuíam, os modelos foram se multiplicando. Junto com a tecnologia, vieram os questionamentos.
Em que medida as calculadoras interferem na capacidade das crianças de raciocinar e resolver problemas? Mais recentemente, será que os novos minicomputadores estariam prejudicando a inteligência das crianças ao impedir que aprendam rudimentos de matemática? Por outro lado, na era da cibernética, será que as crianças deveriam aprender sobre outros assuntos, como a internet ou técnicas de codificação? Ainda é importante aprender caligrafia, ou seria a digitação mais apropriada para o século 21?
No Reino Unido, com frequência líderes empresariais reclamam da falta de preparo dos adolescentes britânicos ao completarem seus estudos. Recentemente, o diretor da Confederação da Indústria Britânica (CBI, na sigla em inglês), John Cridland, declarou que ainda há problemas em áreas como alfabetização e matemática elementar no país.
No passado, a CBI também criticou a falta de sociabilidade dos adolescentes - sua falta de habilidade na comunicação, suas posturas e comportamentos.
Para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), a leitura, escrita e aritmética formam a base fundamental na educação. Mas a chefe da Seção de Aprendizagem e Professores da entidade, Maki Hayashikawa, admite que a tecnologia vem desempenhando um papel cada vez mais importante na vida das pessoas. E deve ser abordada - porém, com cuidado, ela disse.
"As crianças precisam ter uma compreensão básica (da tecnologia) para que não possam ser manipuladas por ela." Por outro lado, para muitos países, o contato com a tecnologia é algo difícil de conseguir. "Nós deveríamos nos focar na leitura, na escrita e na aritmética, mas alguns países não podem ir além disso - seja porque não possuem os recursos, ou porque os professores não têm o conhecimento", disse Hayashikawa.
Aprendizagem autônoma
Para alguns educadores, o que a criança deveria fazer com o conhecimento que adquire é tão importante quanto o aprendizado em si.
John Bangs, consultor da organização Education International - entidade sediada em Paris que representa professores em todo o mundo - disse que os países que se saem bem nos rankings internacionais de educação apresentam um ponto em comum:
"Cingapura, Canadá, Finlândia - todos se focam em desenvolver crianças que se tornam aprendizes autônomos. Eles são capazes de fazer perguntas a si próprios. Aprendem fatos também, mas também aprendem como aplicá-los."
Imaginação
E quando se trata de tendências na educação mundial, as vendas de brinquedos na China apontam para uma direção interessante. Vendas de Lego, os blocos de montar, subiram muito no país. Em mãos criativas, os pequenos tijolos podem ser usados para construir todo tipo de coisa - de trens a foguetes espaciais.
Anders Jacobsen, Chefe de Investimento e Pesquisa na LGBT Capital, uma empresa de gerenciamento de ativos com sedes em Hong Kong e na Europa, disse que a natureza criativa do brinquedo é a chave de seu sucesso na China. "Pais ambiciosos e antenados percebem quão necessário é que suas crianças aprendam, brincando, a pensar de forma diferente."
Segundo Jacobsen, as escolas chinesas não incentivam esse tipo de abordagem na solução de problemas, mas os pais - e os políticos chineses - estão começando a acordar. "A educação formal pode ser desafiada para que incorpore esses objetivos em um sistema que valorize a estrutura e a uniformidade. Os líderes políticos em Pequim estão focados em recriar e manter a China continental na posição de um inovador de peso."
Alfabetização e matemática elementar, solução de problemas e criatividade são, portanto, aptidões e habilidades que todas as crianças devem desenvolver.
Mas segundo John Edwards, diretor da empresa espanhola de codificação DragonFly, falta uma. Edwards disse que todos os anos entrevista muitos candidatos a empregos na companhia, a maioria dos quais já tem grande conhecimento técnico. Ele descreveu uma entrevista recente, feita por Skype, com um candidato que acabou sendo contratado.
"Ele era articulado e educado. Esses são atributos que deveriam ser ensinados a todas as pessoas porque saber se colocar é muito importante. É claro que precisam ter habilidades técnicas, mas se eles já as possuem, faço a seleção usando o critério da sociabilidade."
E além de entender de codificação - precisam também saber a tabuada? "Eu prefiro que as pessoas saibam (a tabuada) em vez de pegarem a calculadora", disse Edwards. "Não para que sejam capazes de recitá-la - mas para provar que têm a habilidade de aprender."
Blog de Deusa / UOL
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