Embora muitos não admitam ou achem a questão controvérsia, todos sabemos que a maior dificuldade da civilização humana, desde seus primórdios, é a comunicação. Um fazer-se entender e ainda entender o outro claramente sempre foi a chave para as grandes evoluções ou discórdias dos primeiros hominídeos até o homem cibernético que navega na Internet no século XXI.
Dentro do quadro “ser humano” encontramos a figura peculiar do adolescente sendo cada vez mais o centro das atenções na mídia, alvo de discussões de pedagogos e intelectuais que se indagam justamente como resolver a problemática introdutória do primeiro parágrafo: como, sobremaneira, comunicar-se com adolescentes? Algumas correntes são da opinião que a melhor técnica é ser direto, claro, objetivo e honesto ao dirigir-lhe as palavras; enquanto outros defendem a tese de que seria melhor tratá-los como crianças.
O presente trabalho realizado na disciplina de Psicologia da Educação I, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, semestre 2007/01, tratou de formular hipóteses que visassem corroborar não em formular uma receita precisa, mas indicar caminhos e alternativas para uma aproximação mais segura e genuína dos jovens. Para tanto, foi entrevistado 32 adolescentes que responderam as seguintes questões: 1)Você se sente criança? Por quê?; 2)Você se sente um adulto? Por quê?; 3)O que é a adolescência em sua opinião? Seja franco; 4)Como geralmente os adultos tratam você?; 5)Como você gostaria de ser tratado? E 6) O que representam os pais e os professores em sua vida?
Das inúmeras respostas surgidas, que vão do desconforto e revolta de “ninguém me entende” até a crença de que “meus pais são meu exemplo”, focamos nossas conclusões sobre pontos de extrema valia.
Primeiro, o fundamental é saber que o adolescente, assim como todo ser humano, deve ser respeitado, compreendido e amado por seus semelhantes. Estes são os princípios nos quais devemos balizar nossas ações dirigidas aos adolescentes. A compreensão de que as concepções dele estão vinculadas a uma fase peculiar e de extrema importância para a sua constituição física, mental, emocional e espiritual são primordiais para o cumprimento da obrigação maior que cabe a adultos e professores: educá-los. Somente assim podemos mostrar-lhes que o “ninguém me entende” faz parte da sua natureza e mecanismo de processo de maturação.
Nos colocando com respeito perante o jovem e deixando que ele se torne protagonista da relação acabamos por construir um novo modelo de relação com o adolescente que o obrigará a enxergar seu modo de agir e ser. Na sala de aula, por exemplo, quando o aluno é respeitado como este “ator principal” , sua postura será tão importante no processo de aprendizado quanto o professor, afinal ele sentirá seus órgãos sensoriais (sentidos) e a cognição, percepção, memória, interpretação, pensamento, crítica e criação aptos para uso no processo de aprendizagem. Ele não somente será um espectador que vai a aula ouvir o professor e sujeitar-se às suas representações de sabedoria, ele será desafiado a interagir com o meio pois o meio é solícito com ele. É preciso, pois, conforme cita o estudioso do tema, Antônio Carlos Gomes da Costa, “...conceber os adolescentes como fontes e não simplesmente como receptores ou porta-vozes daquilo que os adultos dizem ou fazem com relação aos adolescentes.” Outro fato significativo é de que, nas entrevistas e na vida presenciamos isso, é sabido que a adolescência é uma fase passageira. Um período de moratória que deve ser aceito e identificado pela família e também pela escola, sendo esta última convidada a gerar meios e capacitar recursos que ofereçam um espaço de atuação destacada ao estudante, otimizando sua enorme capacidade criativa, e garantindo sua permanência na comunidade escolar. Em relação à escola, esta não deve ter sua classe docente agindo como tiranos ou déspostas medievais. Nesse antigo modelo clichê de educar, bastava o professor olhar para o aluno para que este se calasse diante da reprimenda. Mas esse modelo retrógrado de adestramento há muito já sabemos errado. Tal modelo subtrai o que há de mais importante no ser humano: a subjetividade. Sem dúvida seria um meio cômodo e prático para o adulto “educar” o adolescente. Mas o interesse desse método é unilateral: defende a visão do adulto. Castra a liberdade. Subestimar a capacidade de compreensão do adolescente faz com que eles assumam uma postura de confrontação e afronta, utilizando-se principalmente do cinismo, distanciamento e posturas radicais para demonstrarem capacidade de entendimento ou para mostrarem veto contra a aproximação.
Como agir então? Vestimos uma “roupagem” de adolescente, para com eles nos parecermos esteticamente. E desse modo vamos falar com eles de peito aberto, como se fôssemos seus pares? Não! Não podemos ir para o outro extremo.
Devemos munirmo-nos previamente da verdade quase absoluta de que quase todo adolescente gosta de aparecer. É próprio da fase. Na sociedade pós-moderna os adultos também são estimulados a agir como adolescentes, pelo emprego, bens materiais ou realizações pessoais. Com isso os adolescentes perdem referenciais para guiarem seus comportamentos. A inserção social é conquistada pelo adolescente através desta “veste” estética que tenta a todo custo imitar os adultos para ser tal e qual “gente grande”. Um símbolo eleito pelo adolescente não como uma forma de ser “dono do seu nariz”, mas de protagonizar seu destino e de assumir uma real e rápida transformação em adulto. Como sabemos que se trata de algo forjado, devemos desestimular essa ilusão pelo descrédito. Em lugar de valorizar a aparência, mostramos a eles nossa vontade de ajudá-los.
E será, finalmente essa nossa condescendência para sermos ajudados por eles que nos mostrará como de fato lhes falar, uma vez que seres humanos estão em desenvolvimento constante e a moratória deve ser encerrada e
Fonte :UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Faculdade De Educação - FACED
Disciplina: Psicologia da Educação I./
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