O mau hálito pode aparecer por falta de higiene bucal, mas, ao contrário do que se pensa, a maioria dos casos tem motivos que vão além do kit de escova, pasta de dente e fio dental. A cirurgiã dentista Celi Vieira, consultora da Associação Brasileira de Odontologia, explica que, em geral, as alterações do hálito acontecem por outros motivos. ‘Toda e qualquer alteração, na boca ou em outras partes do corpo, que gere substâncias com odor desagradável, eliminará o mau cheiro pelo ar exalado’.
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O cheiro desagradável pode persistir, mesmo com uma boa higiene bucal, por dois mecanismos principais. O primeiro ocorre dentro da boca, quando há alterações da saliva associadas à descamação da mucosa bucal. No segundo mecanismo, a causa são substâncias formadas pelo organismo frente a alguma alteração do seu funcionamento. Celi Vieira explica que, nesse caso, o odor vem do ar pulmonar – pois os causadores do mau cheiro são eliminados durante as trocas entre oxigênio e gás carbônico que ocorrem nos pulmões - e não da cavidade bucal. Entenda mais sobre essas causas a seguir.
Causas do mau hálito
Descamação da mucosa da boca e diminuição do fluxo de saliva
As células da camada epitelial da mucosa da boca, assim como as da pele, morrem e são eliminadas naturalmente, mas existem problemas que causam descamação muito maior. Entre as causas mais frequentes para esse processo estão:
- Uso de produtos de higiene bucal que agridem a mucosa (normalmente aqueles que ardem dando falsa sensação de limpeza);
- Gengivite;
- Aparelho ortodôntico;
- Refluxo gastroesofágico;
- Ingestão diária de líquidos ácidos (como café, vinho, refrigerantes);
- Respiração feita pela boca, e não pelo nariz.
Em associação à descamação, a diminuição do fluxo salivar é crucial para determinar o mau cheiro, os motivos que causam esse problema são:
- Pouca ingestão de água;
- Falta do estímulo da mastigação;
- Deficiência de vitamina D;
- Medicações que deixam a boca seca.
A boca torna-se então o ambiente perfeito para as bactérias proteolíticas, que degradarão a saliva – que, concentrada, será rica em proteína – e as células descamadas. Esse processo gerará compostos sulfurados voláteis, dando odor ruim ao hálito.
Jejum prolongado
Quando os níveis de glicose circulante caem, o organismo usa a reserva de gordura para obter energia. ‘Para quebrar a gordura, são necessárias substâncias com o odor característico do hálito da fome, como os ácidos butírico, propiônico e valérico’, explica Celi Vieira. O tempo necessário de jejum para que isso aconteça varia de acordo com o metabolismo de cada pessoa e da quantidade de alimento ingerido. ‘Se o metabolismo é rápido, em duas horas o organismo pode começar a utilizar a reserva lipídica como energia e consequentemente gerar o hálito característico da fome, para pessoas com metabolismo lento o tempo é maior’, conta a especialista.
Problemas digestivos
A cirurgiã-dentista Celi Vieira explica que pessoas com refluxo gastroesofágico, má digestão e/ou azia frequentemente relatam ter sensação de mau hálito. No entanto, ela explica que nem sempre é, de fato, o hálito que está alterado. ‘Estas alterações bucais trazem desconforto, gosto ruim, na maioria das vezes amargo, fazendo com que o indivíduo sinta que tem mau hálito, mas ao perguntar às pessoas de sua convivência, eles não confirmarão esta alteração’.
Há outras alterações do aparelho digestivo que podem causar halitose. 'O Divertículo de Zenker e possíveis alterações anatômicas ou patológicas do esôfago e dos intestinos causam a estagnação de resíduos alimentares e podem alterar o hálito', completa Celi.
Alimentos que geram mau hálito a longo prazo
Os alimentos, depois que passam pela boca, continuam sendo degradados no organismo. Os produtos finais da metabolização de alguns deles são aromáticos e de odor forte, como o alho e a cebola, e seus cheiros serão eliminados através das trocas de gases que acontecem nos pulmões. O leite atua de uma forma diferente: ele forma um biofilme lingual visível acentuado, a chamada saburra, que pode ficar estagnada na cavidade bucal, mesmo depois de escovar os dentes e do uso do fio dental e, às vezes, mesmo depois de limpar a língua. ‘A degradação da saburra gera formação de compostos sulfurados voláteis, que causam o mau cheiro’, explica Celi Vieira.
Problemas respiratórios
Sinusites e rinosinusites bacteriana aumentam a produção de muco, composto por proteína, e bactérias proteolíticas para degradá-lo. Mais uma vez esse processo irá gerar compostos sulfurados voláteis, causadores do mau hálito. Infecções pulmonares, como pneumonias, também favorecem a formação dos compostos sulfurados e podem alterar o hálito.
Problemas renais
‘Os rins são vias de excreção que ajudam a eliminar todas as substâncias tóxicas do corpo’, explica Celi Vieira. ‘Por isso, hálito alterado, mesmo quando o odor não é desagradável, pode sinalizar uma alteração renal’ Em um quadro instável de diabetes, por exemplo, os níveis de ureia no sangue ficam elevados. A substância será eliminada pelo ar exalado dos pulmões e o hálito, bem como o suor e a saliva, terá odor de urina. O hálito do diabético pode ainda ser influenciado pela quebra das reservas de gordura - que gera substâncias mal cheirosas, como os ácidos butírico, propiônico e valérico. Nesse caso o corpo não consegue usar a glicose circulante e por isso usa a gordura para gerar energia.
Blog de Deusa / mulher.com.br
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