Um relacionamento à dois começa a se complicar quando uma das partes tenta transformá-lo em uma relação simbiótica, numa tentativa de fusão de dois seres em um só, sem espaço para as individualidades e necessidades pessoais.
Surge o namoro “grude”, aquela pessoa que liga logo cedo, o tempo todo, no trabalho, durante a faculdade ou até em uma viagem de trabalho. Aquele caso de inúmeras mensagens no Whatsapp ao longo do dia, e que se não responder de imediato já vira motivo para brigas e chateações.
É o típico relacionamento em que se discute a relação com freqüência, que não consegue existir sem o ser amado e ainda acha um absurdo o companheiro ser feliz sem sua pessoa. Aí começam a surgir constantes reclamações, acusações, cobranças e rótulos.O parceiro é acusado de individualista, egoísta, adjetivos que além de magoarem, muitas vezes não procedem.
O fato de uma das partes ser uma boa companhia para si mesma nas horas vagas, não significa que não goste do companheiro, ou que goste menos. Muitas vezes é sozinho, envolto nesse silêncio e em certa paz que se recompõe as energias, se descansa de um trabalho desgastante, que se planeja o futuro, que se encontram soluções para os problemas. É nesses momentos também que cada um se conecta consigo mesmo, podendo perceber uma infinidade de coisas, inclusive sentir saudades da pessoa amada, se essa pessoa já não tiver grudado no telefone e feito dezenas de ligações o dia inteiro. E isso tudo não sai barato, é claro, pois uma das partes pode começar a se sacrificar muito, abrindo mão de seu espaço e sofrendo para satisfazer as carências e exigências da pessoa amada que costumam ser infinitas. Começa a se sentir sufocado.
A felicidade de cada um não se encontra no outro. Está dentro de cada um de nós. O parceiro é companhia para se viver esta vida, não é remédio para os males. Quando se conhece bem a si mesmo e se está conectado com seus próprios sentimentos, cada um é capaz de identificar as próprias necessidades e trazer mais prazer e alegria para a própria vida. Ser feliz é uma questão de escolha. Atribuir ao outro a responsabilidade por sua felicidade é eximir-se de sua responsabilidade pela própria felicidade. E o relacionamento é gratificante quando os dois são felizes, inteiros, plenos, sem necessidades de buscar no companheiro a metade que lhe falta.
Ocupando-se do ser amado integralmente, evita-se a oportunidade de se ficar a sós consigo mesmo e a oportunidade de se perguntar: o que tenho feito por mim? Quem sou eu hoje? Que planos e sonhos tenho para meu futuro? O que sinto a meu próprio respeito? Que tenho feito de minha vida?
Quando uma das partes deixa de existir, com suas necessidades únicas e pessoais, só existindo em função do companheiro, começa a pesar no relacionamento. Torna-se uma relação simbiótica e doentia. É preciso dar espaço ao outro para que ele seja quem é. E preencher o seu tempo com atividades prazerosas, se descobrir e construir a própria vida dando sentido a ela. A relação com seu amado deve ser uma parte da vida e não a própria vida, pois se ele se fosse, o que lhe restaria?
As demais partes da vida seriam compostas também pelos amigos, que devem ser cultivados, pela família, pelo trabalho, atividades escolares, exercícios físicos, trabalhos voluntários, etc. Há uma infinidade de coisas que se pode fazer por si mesmo, sozinho, sem que o namorado tenha que necessariamente gostar e participar delas. Ler um livro, assistir um filme, fazer um curso.
Quanto mais se tenta prender e escravizar o outro em suas próprias carências e necessidades, mais se perde, mais sufoca. É dando liberdade que se prende e cativa. É sendo agradável e amável que se tem amor. Contenha o impulso de grudar no ser amado, conecte consigo mesmo e se faça feliz, estabeleça seus objetivos. Seja agente construtor de seu próprio destino. Depois compartilhe com ele suas próprias conquistas, suas alegrias e vitórias.
A psicoterapia é um excelente aliado nesses momentos em que são necessárias novas formas de estar na vida e nas relações.
Não corra atrás das borboletas. Cuide de seu jardim que elas virão até você. Charles Chaplin
Fonte : Blog de Deusa / Sempre Bella
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