quarta-feira, 29 de abril de 2015
Tudo o que você precisa saber sobre o leite na dieta infantil
Já está mais do que provado que ele é essencial para o desenvolvimento das crianças. Mas, há tantas versões nas prateleiras dos supermercados que é fácil ficar confuso sobre qual comprar, como oferecer ou com quais alimentos combiná-los. Para acabar com suas dúvidas, conversamos com especialistas e montamos um verdadeiro dossiê sobre o leite
Por que o leite é tão importante para os bebês e crianças?
O leite é o alimento com maior concentração de cálcio, mineral que age diretamente na formação da massa óssea. E cerca de 70% dela é formada até a adolescência. Por isso, ele se torna um alimento fundamental durante a infância. Além disso, possui uma série de nutrientes que também são importantes para o desenvolvimento da criança. Sem ele, há o risco de surgirem deficiências nutricionais que podem prejudicar todo o crescimento. “Nos primeiros anos de vida, o consumo de leite garante a quantidade adequada de cálcio, sendo que nos 6 primeiros meses, o leite materno supre totalmente as necessidades nutricionais da criança”, diz Fabíola Suano, nutróloga e integrante do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Quais nutrientes ele oferece?
Nem só de cálcio é feito o leite. Ele também é rico em:
Proteínas, cuja função regeneradora repõe células e tecidos do organismo. Potássio, mineral importante para o equilíbrio dos fluidos corporais e as contrações musculares. Fósforo, vital para a mineralização óssea e o fornecimento de energia para as células. Magnésio, que auxilia na absorção das proteínas e nos processos biológicos do corpo. Vitamina A, que aumenta a imunidade, combate doenças de pele e melhora a visão. Vitamina B1, que ajuda no funcionamento cerebral e cardíaco.Vitamina B2, que protege contra a anemia. Outras vitaminas do complexo B, que ajudam no crescimento e no ajuste do sistema imunológico.
Qual a quantidade ideal para ser consumida diariamente?
Para garantir o consumo de nutrientes necessários ao crescimento da criança, o leite deve ser ingerido nas seguintes quantidades, diariamente:
Até os seis meses - aleitamento materno sob livre demanda. No caso do uso de fórmulas infantis, o ideal é de 700 a 1000 ml, dependendo da fase de lactação.
Dos 6 aos 12 meses – De 500 a 600 ml, dividido em três vezes.
De 1 a 6 anos – Um total de 600 ml, dividido em três vezes.
Mas, é bom lembrar que o cálcio pode ser encontrado em outros alimentos, como os derivados do leite (queijos, iogurtes), aveia, brócolis, mamão. “As necessidades diárias de cálcio na infância são de 800 mg por dia, o que pode ser atingido com dois copos de 200 ml de leite, um iogurte pequeno e 1 fatia fina de queijo ”, exemplifica a nutricionista Ilana Elman, doutora em Ciências/Nutrição em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
Quais os tipos de leite que existem?
Existem as fórmulas infantis, o leite de vaca e leites modificados para atender a restrições alimentares. Todos são comercializados na forma líquida ou em pó, por várias empresas diferentes.
As fórmulas infantis foram criadas para bebês que, por alguma razão, não podem ser amamentados. Elas possuem características nutritivas e digestivas muito semelhantes ao leite materno. No processo de fabricação, são enriquecidas com ferro e sais minerais, e a gordura e a proteína sofrem modificações que facilitam a digestão.
O leite de vaca pode ser encontrado nas versões integral, semi-desnatado e desnatado. A diferença entre eles é a quantidade de gordura. No leite semi-desnatado, há uma menor presença de gorduras saturadas e um valor calórico menor que o do leite integral. E o mesmo ocorre com o desnatado em relação ao semi-desnatado. “A diferença de cálcio é de alguns miligramas entre as três versões. O leite desnatado possui quantidades similares de proteínas, cálcio, potássio, fósforo às do leite integral”, explica a nutricionista Melissa Lippe, diretora do Renutrir – Nutrição e Bem Estar.
O leite de vaca é comercializado fresco ou nas embalagens do tipo longa vida. Do ponto de vista nutricional, eles são semelhantes. O que muda é a produção, a forma como chega ao supermercado e, claro, o preço. Os leites frescos são classificados em A (de um mesmo rebanho, com ordenha mecanizada e embalado na fazenda de origem, o que garante melhor higiene), B (de uma mistura de rebanhos e embalado fora da fazenda, o que já não é tão seguro) e C (também de uma mistura de rebanhos e com ordenha manual, o que o torna o mais barato, porém mais suspeito). Os do tipo longa vida passam por um processo de superaquecimento seguido de um rápido resfriamento, o que lhes garante uma melhor higienização e mais tempo de conservação.
Os leites modificados, como diz o próprio nome, tem sua composição alterada para atender às restrições alimentares, como a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite.
Qual o melhor tipo de leite para as crianças?
Antes dos dois anos, a criança deve ser amamentada ou tomar fórmulas desenvolvidas para essa faixa etária. Depois disso, caso não haja restrições, como alergias e intolerâncias, ela pode experimentar o leite de vaca. O do tipo integral é o mais adequado porque possui uma boa quantidade de gordura, nutriente responsável pela formação de tecidos cerebrais e hormônios e por regular algumas funções metabólicas. Além disso, também oferece as calorias adequadas para o desenvolvimento, nessa fase. “Os leites desnatado e semi-desnatado apresentam menor teor de gordura e isso também prejudica a concentração de vitaminas A e D”, avisa Melissa. Caso a criança apresente alguma tendência à obesidade, problemas de colesterol ou outros cardiovasculares, é o caso de conversar com o pediatra sobre a possibilidade de trocar a versão integral por outra menos calórica. Mas, apenas nesses casos.
Vale a pena investir em produtos fortificados com vitaminas e minerais?
Geralmente, não há necessidade, apesar de o apelo dos fabricantes ser bastante forte. Se a criança tem uma alimentação equilibrada e variada, não há porque comprar alimentos com vitaminas e minerais extras. Ela já vai ingerir no dia a dia tudo o que precisa para o seu desenvolvimento. Produtos fortificados só devem ser utilizados quando o pediatra ou o nutricionista que acompanha a criança detectar uma deficiência nutricional.
Como servir o leite?
No caso das fórmulas infantis, siga as instruções da embalagem sobre a quantidade de pó e água. Lembre-se que essa última deve ser filtrada. Quando usar leite de vaca fresco, ferva durante três minutos, pelo menos. O do tipo longa vida pode ser consumido sem ferver. Os três podem ser guardados na geladeira por até 24 horas, desde que não tenham entrado em contato com saliva. Sobras do copo e da mamadeira devem ser dispensadas.
Os derivados do leite podem substituí-lo?
Quando o assunto é cálcio, podem, sim. Iogurtes, queijos, bebidas lácteas cumprem o papel de fornecedores, mas as quantidades de cada produto não são equivalentes. Por exemplo: 182 gramas de leite tem a mesma quantidade de cálcio encontrado em 120 gramas de um iogurte de frutas, 160 gramas de leite fermentado ou 90 gramas de queijo tipo petit suisse. Para não enlouquecer fazendo contas, o melhor é apostar no leite como personagem principal, mas usar os derivados como coadjuvantes. Ao invés de três copos de leite por dia, a criança pode consumir dois e trocar o terceiro pelos derivados.
Receitas que levam leite ou outro laticínio ajudam a suprir a necessidade nutricional?
Eles até ajudam, mas muito pouco. Basta lembrar que as porções utilizadas em receitas são pequenas. No caso de um bolo, por exemplo, normalmente são usadas de uma a duas xícaras de leite. E a garotada só vai comer um ou dois pedaços. Conclusão: a quantidade de cálcio ingerido é pequena. O mesmo ocorre com o pão de queijo ou com um misto quente. Por isso, esse tipo de comida deve ser considerado um complemento. A criança precisa continuar a beber o leite em sua versão original para garantir o consumo de cálcio e de outros nutrientes que necessita, nessa fase.
Combinações com açúcar ou chocolate tornam a bebida excessivamente calórica?
Sim, tanto o açúcar como o chocolate vão acrescentar numerosas calorias ao leite. Consumidos muitas vezes, diariamente, podem levar à obesidade. Além disso, também aumentam o risco de cáries. O ideal é oferecer o leite puro ao pequeno, o máximo de tempo possível. Conforme a criança cresce e começa a ter contatos sociais, descobre que existem outras formas de beber o leite. Nesse momento, comece a oferecer combinações com frutas e cereais e, em último caso, negocie o achocolatado uma vez ao dia, apenas.
O que são e como lidar com a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite?
Primeiro, é bom saber que se trata de dois problemas bem diferentes. A intolerância aparece quando o organismo não produz a quantidade correta de lactase, enzima intestinal responsável por digerir a lactose, o açúcar do leite. Como ela não é bem digerida no intestino, sofre uma fermentação de bactérias, o que resulta em sintomas como vômitos, diarreia e distensão abdominal. Geralmente, a intolerância aparece na fase pré-escolar. “Em alguns casos, bebês mais jovens podem ter intolerância à lactose, especialmente após uma diarreia aguda, mas esse quadro é passageiro e nem sempre é necessário alterar a alimentação da criança”, afirma Fabíola. O tratamento é a redução ou isenção de lactose da dieta. Atualmente, há diversas fórmulas infantis e leites de caixinha com redução do teor deste açúcar. Derivados do leite como queijos e iogurtes podem ser consumidos por crianças maiores, já que seu processo de fabricação diminui os teores de lactose.
A alergia à proteína do leite de vaca acontece por conta de uma resposta exagerada do sistema imunológico à presença da tal proteína. O problema costuma ser detectado cedo, durante o primeiro ano de vida ou no momento que a criança entra em contato com o leite. A alergia pode causar sintomas como diarreia, vômitos, dermatite, urticária, anafilaxia, crise de asma, entre outros. A vantagem é que, em 85% das vezes, ela se resolve sozinha, por volta dos 3 anos. O tratamento é a retirada completa de leite e derivados da dieta . Existem leites em pó infantis especiais, feitos com proteínas altamente hidrolisadas e, portanto, com menor potencial alergênico do que uma proteína intacta. Para casos graves, existem fórmulas à base de aminoácidos que são os componentes estruturais da proteína. As versões à base de proteína de soja também são uma alternativa para crianças acima de 6 meses de vida.
“Pode ser difícil diferenciar a intolerância da alergia, pois muitas vezes os mesmos sintomas aparecem em ambos os casos, como irritabilidade, desconforto abdominal com gases e diarreia. Por isso, apenas um pediatra pode diagnosticar e orientar o tratamento correto”, alerta o pediatra Rubens Feferbaum, especialista em Nutrologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Fontes
Fabíola Suano, nutróloga e integrante do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria; Ilana Elman - Nutricionista - Doutora em Ciências (Área de Concentração: Nutrição em Saúde Pública) pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; Melissa Lippe, diretora do Renutrir – Nutrição e Bem Estar; Rubens Feferbaum, pediatra especialista em Nutrologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Blog de Deusa / bebe.com.br
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