quinta-feira, 16 de abril de 2015

Gisele se despede das passarelas e entra para a história da moda

                               Gisele Bündchen minutos antes de entrar na passarela (Foto: Nelson Antoine/AP Photo)
A modelo mais famosa e rica do mundo fez seu último desfile para a Colcci na São Paulo Fashion Week, nesta quarta-feira, 15 de abril
Ao longo de três décadas de carreira, cheguei muito próximo a celebridades - muitas vezes de manhã bem cedinho, quando a luz do Sol é implacável com o make-up artist, como se autodefinem maquiadores que transformam borralheiras em princesas da Disney.                  
Ao longo desse tempo, poucas mulheres me chamaram atenção por algo que vai além do que se enxerga, um poder sobrenatural que transforma em pó qualquer concorrente ao redor. Gisele Bündchen, que encerrou a carreira nas passarelas mundiais no desfile da Colcci na São Paulo Fashion Week, nesta quarta-feira, 15 de abril, era uma delas.         
Carisma não se constrói. Se nasce com ele, ou não se tem. Para além de seu talento e sua importância histórica como modelo, Gisele imobiliza quem está diante dela. É um misto de entrar e sair na hora certa, sorrir no ângulo e na medida precisos, vestir-se e maquiar-se com as informações necessárias para o momento. Nem mais, nem menos. Ela nunca foi citada como deselegante nesses concursos que detonam famosas que erram em suas escolhas. Que eu lembre, nunca.  Ela sempre sambou na cara da humanidade, como virou moda dizer.
Elegância, sabemos, tem menos a ver com a roupa do que com o fato de interagir com o outro. Precisão de gestos, tons, verbos e silêncios. Além disso tudo, Gisele conseguiu algo extraordinário no mundo da moda: o andar. Ela desenvolveu um novo caminhar de passarela, exaustivamente repetido pelas chamadas new faces. 
    Cabeça levantada, perna cruzando perna, paradinha de fração de segundo, pegada na cintura com alta voltagem de sexualidade, e o maior dos truques: congelar o mesmo olhar e a mesma pose para todos os fotógrafos e cinegrafistas, como se todos tivessem direito a mesma cena. Depois do último clique, Gisele se virava e riscava com pólvora a sala de desfiles. Os verbos estão no passado porque quem não viu ao vivo perdeu, talvez para sempre, um espetáculo da natureza em formato de mulher.
Pensar que há 20 anos o nariz de Gisele, quem diria, costumava chegar antes de outras fatias do corpo da dona nos escritórios dos clientes. Tempo em que só faziam sucesso modelos com aparência doentia, o estilo “heroin chic”, com olhos fundos, rostos angulares e narizes tímidos. Tal como uma Carmen Miranda desnuda de balagandãs, a modelo foi se apresentando com superlativos: o nariz, os cabelos volumosos e luminosos, as curvas recortando um corpo em formato de Y.
Kate Moss estava no auge, mas era ícone cadente dos dias de ressaca. Os EUA já queriam vender saúde, nada de aparência doentia. Gisele, então, foi a mulher certa na hora certa diante da pessoa certa, Anna Wintour, diretora de Vogue America, a revista de moda mais influente do mundo, ainda hoje, que jogou todas as luzes sobre uma modelo em si já iluminada.
Gisele reproduzira o dourado de dias ensolarados em praias brasileiras, e foi abrindo espaço não só pela beleza. Ela também virou referência para as colegas por sua disciplina. Pela disponibilidade para as propostas mais irreverentes. Por nunca reclamar das tarefas. Por ter senso de oportunidade. Se pontual.  Possuir controle sobre sua imagem, e um envolvimento raro com as marcas que a contratam. O mais importante: mais importante que estar associada a um preço, ela sempre se preocupou em ser uma aspiração, construir uma mitologia eficaz e rentável.         
Gisele Bündchen aos 14 anos (Foto: Reprodução Instagram)
Gisele Bündchen aos 14 anos, no dia de seu primeiro desfile (Foto: Reprodução Instagram)

ÉPOCA publicou a primeira matéria de capa de uma revista semanal direcionada à modelo, quando ela era uma adolescente, em 21 de junho de 1999. Aos 18 anos, ela já negociara um contrato fabuloso por um dia de trabalho: US$ 35 mil. Quilômetros de passarela depois, ela tornou-se a primeira brasileira quase bilionária sem ter herdado de pais ricos. O mérito é todo dela e de quem enxergou além do seu nariz.
Em 20 anos de carreira, Gisele estampou praticamente todas as capas de revista de moda, além de ter sido a primeira a sair à frente de publicações esportivas, semanais de informação relevantes e outros veículos distante do seu talento embrionário, o de ser modelo. Por baixo, foram 500 capas.

Gisele esteve em dois filmes norte-americanos (Taxi, onde contracenou com Queen Latifah, e O Diabo Veste Prada, com Meryl Streep), foi à festa do Oscar com Leonardo di Caprio (quando ele concorreu por O Aviador, de Martin Scorsese, em 2005), seu namorado de então. Foi e é estrela de diversos comerciais de TV aqui no Brasil.    

Pensar que o sonho da “namorada de Popeye”, como já foi chamada na adolescência, era apenas melhorar a postura e comprar um cavalo. Recusada em quase 200 castings – a seleção de um modelos - ela quase desistiu de tudo. Mas ouviu do pai, Valdir Bündchen, autor do livro Como Construir a Si Mesmo, que ela precisaria de um planejamento profissional. Assim, pai e filha assinaram o primeiro contrato, com a agência Elite, iniciando um rigoroso plano de voo.     
Gisele, assim, virou uma máquina de vender, especialmente quando atravessou a fronteira que separava editorais de moda de luxo e trabalhos comerciais. Assinou contrato longo com a Victoria´s Secret, no início dos anos 2000, vendeu lingerie como água de coco e abriu caminho para outras brasileiras.

De acordo com a revista Forbes, publicação que “descobre” as cifras de milionários, Gisele foi a modelo mais rentável do planeta seguidamente por dez anos, entre 2000 e 2010. Ainda é. No último ranking, de 2014, garante-se que ela enriqueceu mais US$ 42 milhões e é uma das mulheres mais poderosas do planeta.  

Mãe de Benjamin, 5, e Vivian, 2, e casada há seis anos com o jogador de futebol americano Tom Brady, Gisele mora em Boston e pretende um dia voltar a morar no Brasil, se convencer o astro americano. O formidável disso tudo é que assim como jogadores de futebol, a vida útil de uma modelo chega, no máximo, a essas duas décadas, mas Gisele só fecha uma “lojinha” de seu negócio.
Gisele Bündchen com sugestiva camiseta: "O melhor ainda está por vir" (Foto: Reprodução Instagram)
Gisele Bündchen com sugestiva camiseta: "O melhor ainda está por vir" (Foto: Reprodução Instagram)
O contrato com a marca Under Armour, fabricantes de materiais esportivos, vai durar, por baixo, mais dez anos, e vai lhe render prováveis US$ 250 milhões, o que significa dizer que ela só está na primeira dupla de anos da carreira. “Ser modelo, para mim, é uma chance de ganhar dinheiro e criar negócios”, disse um dia. Quem há de negar?
Gisele abraça as amigas também modelos que convidou para desfilar em sua última SPFW (Foto: Andre Penner/AP Photo)

Gisele abraça as amigas também modelos que convidou para desfilar em sua última SPFW (Foto: Andre Penner/AP Photo)




           Blog de Deusa / Revista Época




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