sexta-feira, 8 de junho de 2018

Qual é o melhor tipo de parto?


CESARIANA


       
PARTO VAGINAL











Outro dia uma paciente que me contou sobre uma entrevista no programa Mais Você e eu tive que conferir o vídeo no site da globo.com. O assunto era Parto Natural Domiciliar, e fiquei muito preocupada com o que vi.




Vou direto ao assunto. Na tal entrevista com a filha da Ana Maria Braga e mais duas parteiras contando como foi lindo seu parto domiciliar fiquei chocada quando vi a “PhD em obstetrícia” Mariana falar que as pacientes não podem deixar seus médicos interferirem na via de parto. Quase surtei quando vi a outra moça dizendo que a gestação não é doença (concordo), logo ela não deve ser tratada por uma cirurgia, e que é um mito dizer que parto dói e que a cesariana pode salvar a vida do bebê. Como assim??????? E mais! Disse que a mulher submetida à cesariana não é capaz de dar amor ao seu bebê devido às dores que sente durante meses no pós-operatório. Sinceramente, eu achei muita falta de responsabilidade o depoimento das entrevistadas. A Mariana fica de fora disso porque é leiga e não posso exigir nenhum conhecimento obstétrico dela, mas as parteiras, o que elas pretendem?

Eu não sou contra o Parto Normal. Sou contra esse exagero de inventar moda com a vida dos outros. Pra mim, o parto normal é o parto vaginal, que pode receber analgesia, que pode receber a episiotomia quando necessária, que ocorre em ambiente hospitalar com a presença de médicos e com suporte para resolver possíveis intercorrências. Já o parto natural é aquele sem nenhuma intervenção. É aquele que o bebê nasce sozinho em casa, na rua, no taxi, no mercado. Esse parto qualquer um “faz”. Mas se esse bebe demorasse a nascer? e se não nascesse? Existem diversas intercorrências no parto e situações que impedem o nascimento espontâneo do bebê ou até colocam a vida em risco, da mãe e do filho. Em minha opinião, nascer fora da maternidade, só se “acontecer” sem que isso seja programado.

Esses bebes não nascem sozinhos

Então, continuando, eu sou totalmente contra o parto domiciliar. Quem defende essa prática alega que a maioria dos partos normais tem um desfecho satisfatório. Engraçado, por que não todos? E o que acontece com os partos sem sucesso? O problema está aí. É uma minoria que não dá certo, mas esse “não dá certo” dá muito errado! As conseqüências de um parto mal sucedido são seqüelas irreversíveis ou fatais para o feto ou a gestante. Minutos sem intervenção médica podem decidir o destino de ambos. Como adivinhar qual parto será sem intercorrências? Mesmo dentro de uma maternidade há esse risco, imagine em casa.

Eu acho um retrocesso. Antigamente os partos aconteciam em casa, sim, mas e a quantidade de mulheres que morriam de parto ou de bebes que “não vingaram”? Era natural dizer que fulana morreu no parto ou o filho de beltrana morreu no parto. As pessoas se conformavam. Acontecia. Paciência. Contam com a maior naturalidade: “Minha bisavó teve 18 filhos e só vingaram 10”. Mas em 2011, em lugares com recursos e facilidades, acho inadmissível morrer de parto por falta de assistência médico-hospitalar. Claro que ainda há e continuará havendo mortalidade materno e fetal, mas esse número é decrescente e não pode acontecer por negligência. Se de 100 partos, 1 dá errado, quem quer ser esse 1?

Ontem comemoramos o dia da redução da mortalidade materna e eu desejo que esse número seja cada vez menor.

Para você ficar sabendo:

A gestante em trabalho de parto pode receber analgesia, realizada por médico anestesista capacitado para esse ato. Não é todo anestesista que sabe fazer analgesia de parto. Em mãos competentes a analgesia auxilia no parto, tirando a dor das contrações sem interferir na sua mecânica. Além disso, o anestésico relaxa mais o colo reduzindo o tempo de trabalho de parto, sem falar que, sem dor, a futura mamãe consegue fazer a força com mais qualidade, contribuindo com o nascimento do bebê. Porém, se o anestesista não tiver prática e conhecimento no assunto, a analgesia do parto pode atrapalhar tudo e até provocar sofrimento fetal.
 
A episiotomia é um pequeno corte numa determinada região do períneo, útil para proteger a musculatura desta região e ajudar a saída do feto em seu nascimento. Na maioria das vezes esse corte não incomoda e a cicatrização é excelente. O parto sem episiotomia pode provocar laceração do períneo. Por mais que existam manobras de proteção do períneo para evitar tais lacerações, elas podem acontecer principalmente nas primíparas (pacientes que estão dando à luz pela primeira vez) e nos fetos grandes. Geralmente aquelas gestantes com partos normais anteriores dispensam a episiotomia.

Dentro dessas modalidades de parto normal, temos o parto na banheira, que deve ser desestimulado pelo risco de contaminação (a água se mistura com as eliminações fisiológicas da mãe). Eu fiz residência em uma maternidade que foi a primeira a ter banheira para o parto e foi a primeira a proibir essa prática. Hoje em dia a banheira é útil durante o trabalho de parto, para relaxar a gestante, mas na hora do nascimento ela vai para lugar adequado.

Algumas vezes é necessário o uso do fórceps, uma prática muito bem recebida na Europa, mas aqui, há muita resistência por parte das pacientes. O fórceps auxilia o obstetra na descida e extração do feto no parto difícil.

O parto sem a presença do médico obstetra, mas acompanhado e realizado por parteiras ou “doulas” já é proibido em algumas maternidades.

O mesmo tipo de parto não é o ideal para todas as gestantes.

O parto normal também apresenta riscos e complicações.

A mulher será a mesma mãe e dará o mesmo amor independente do tipo de parto.

A mulher deve ter o direito de escolher seu parto e o médico obstetra é o profissional capaz de intervir nessa escolha quando necessário.

Durante anos lutamos pela presença do pediatra em sala de parto, uma conquista sem discussão. 

É errado escolher a cesariana só para aproveitar e ligar as trompas. 

Onde não há controle de natalidade (como na rede pública onde é mais comum a mulher ter muitos filhos), realizar cesarianas recorrentes é um risco. Não há limite de número de parto normal. 

A cesariana pode se tornar um problema financeiro para o governo pois exige mais medicamentos, equipamentos e equipe de profissionais.

A mãe pode amamentar seu filho assim que ele nascer, tanto no parto normal, quanto na cesariana.

O período de internação é o mesmo no pós-parto normal e cesariana.

O parto normal oferece recuperação melhor que a cesariana, o que não quer dizer que a recuperação da cesariana seja horrível.

A mulher pode alimentar-se em cerca de 6 horas após a cesariana e levantar-se em 10-12horas. 

A mesma mulher que diz que o parto tem que ser natural sem cortes deseja fazer várias cirurgias plásticas ao longo da vida. Hã?

Parto Humanizado deveria ser aquele em que se oferece o máximo de conforto e segurança possíveis para a mãe e seu bebê. 

Além do parto humanizado (expressão que eu odeio – e os demais partos? São desumanos?), inventaram a cesariana humanizada: o pai do bebê está presente na sala, a mãe acordada para participar do nascimento do bebê que, ao nascer, é levado imediatamente ao encontro dos pais e, já nesse momento, é estimulada a sucção do bebê ao seio da mãe. Então o pediatra realiza o exame clínico do bebê e, confirmado o bom estado de saúde dele, é entregue de volta aos pais (eu já fazia cesárea humanizada e não sabia!), porém na hora do nascimento apagam-se as luzes da sala de cirurgia. Gente, pra que???? Logo que nasce o bebê abre logo aquele olhão lindo e recebe um monte de flash que não faz mal nenhum. A luz da sala vai incomodar o bebê? Me poupem! Agora, música na sala de cirurgia eu sou a favor, é legal, desde que seja um rockzinho, uma MPB, música clássica, jazz... 

Se perguntarem qual é o melhor tipo de parto,
devemos ser adeptos do parto com responsabilidade. 
Os bebes agradecem.


Blog de Deusa / toque ginecológico

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