A obstetrícia não vive só de nascimentos de bebês lindos, infelizmente. Esses dias eu internei uma paciente com quadro de Incompetência Istmo Cervical (IIC) com desfecho desfavorável (pois o diagnóstico foi feito em momento que já não seria possível o tratamento) e precisei dividir isso com vocês.
A IIC é quando a musculatura do colo do útero é frágil e não aguenta levar à gestação até o final devido ao peso do útero em constante crescimento, contendo o feto, líquido amniótico e placenta. Por não aguentar o peso, o colo se abre, a bolsa d`água se rompe e em seguida se inicia um "trabalho de parto ou de abortamento", muito leve, e muitas vezes indolor, que expulsa o feto.
Na maioria das vezes o diagnóstico é feito quando a gestante que começa o pré-natal conta que já perdeu dois ou mais fetos com 4 ou 5 meses de gestação. Ao saber desse passado, o obstetra realiza uma cirurgia (Circlagem) em torno de 14 semanas de gravidez, que fecha o colo do útero com um fio específico e só retira esse fio no final da gravidez ou se houver alguma intercorrência que justifique este ato. Porém se a paciente não está grávida, mas está planejando engravidar e tem o diagnóstico, ela pode ser submetida à cirurgia de Lash. Outra maneira de desconfiar que o colo é incompetente é durante ultrassonografia transvaginal na gravidez, que evidencia uma herniação da bolsa d`água através do canal do colo. Às vezes nós nos se surpreendemos com esse quadro já no quinto mês de gestação e, dependendo das condições do colo, ainda é possível realizar a circlagem (desde que os benefícios superem o risco de acontecer a ruptura da bolsa durante a cirurgia). Fora da gravidez o exame chamado video-histeroscopia também pode diagnosticar o colo incompetente, mas este exame não é indicado de rotina para este fim. Em casos onde a paciente está realizando o exame por algum outro motivo o médico é capaz de diagnosticar a IIC e deve informar à paciente para que ela tente evitar a perda fetal em gravidez futura.
(figura copiada do site sistemanervoso.com) |
Foram quase três semanas de tensão, pois a paciente acabou perdendo o bebe de 19 semanas e ainda teve a placenta retida, por outra entidade chamada acretismo placentário (a placenta penetra e fica agarrada na parede do útero). Neste caso, muitas mulheres acabam perdendo o útero, mas em condições favoráveis de ausência de sangramento, infecção e dor, há a possibilidade do tratamento conservador, que no caso dela, foram administrados medicamentos e realizado a ressecção da placenta por histeroscopia em dois momentos.
Tudo acabou bem e agora ficamos mais tranquilas.
Blog de Deusa /toque ginecológico
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